Saí de lá com o rosto marcado,sem ideia nenhuma do que iria fazer logo em seguida. Lembrei que tinha um encontro,ás 18:00. Pensei no que diria,pensei no que eu poderia dizer,pensei em qualquer disfarce que pudesse esconder algum vestígio de dor. E doía,ardia.
Tentei conter o choro e consegui na maior parte do tempo,porém,ao andar na rua,as pessoas
olhavam e encaravam,era explícito o questionamento no olhar,ao me ver.
Tudo doía. Meus olhos ardiam,de tão pequenos que ficam quando soluço com uma frequência absurda; a perna,um pouco cortada; o sangue já seco e marcado,fez-me arrancar uma folha do caderno e limpei-o.
O corpo tremia,mal conseguia respirar do cansaço ao sair e correr,pegar minhas coisas,sem o tempo de chorar. Pelo caminho ainda chorei,bastante.
Lembrei na hora do sorriso de um amigo,o qual tanto gosto. Também tentei sorrir. Hipocritamente,só pensava em tentar arrumar um jeito de me enganar.
- Moça,cê quer alguma coisa,uma água ?
Me questionei diversas vezes o que fazia ali,naquele lugar.
Era pra me fazer presente,tentar acreditar que naquela noite,especificamente,alguém poderia me curar da dor física e talvez,da emocional. Sempre acho que com os homens,mantive cachoeiras de lindas palavras e atitudes para convencê-los de algo que não sou,nunca fui. E quando fiz questão de me ser,os que amei e os que tentei amar eram exatamente iguais á mim. Tínhamos o mesmo truque de conquista alheia: éramos o que não somos,justamente para nos exibirmos de inteligência,simpatia,beleza ou qualquer outro artifício que quiséssemos mostrar para com o outros,e fazer com que eles nos amem.
Durante toda a noite ouvi poesias declamadas que não gostei,e menti dizendo que gostava.
Com o celular quebrado,e ainda trêmula de dor,deixei que ele falasse sobre a vida e do ex-casamento. Simultaneamente,pegava em minha mão tentando buscar algum assunto que mudasse minha expressão dolorida. Beijava-me delicadamente e quando olhava,de perto,para meu rosto,acariciava-o como se quisesse limpar os arranhões.
Ao voltar,chorei em silêncio e preparei a canção mais bonita para alimentar mais uma sequência de desfreamento emocional que enfrentarei sem pedir.