domingo, 19 de setembro de 2010

Enquanto (I)

E ao mesmo tempo,a impressão, um pouco inconseqüente,como de um sonho formado sobre realidades mistas. De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico. Para ser encontrada pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.
E,ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda. De haver melhor em mim do que eu. De te lembrar sorrindo nos meus braços de punhos finos,te fazer nascer em mim sem qualquer preço de distância.
Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,como de acordar sem o instante do meu passado,da minha saudade tão inbutida quanto o teu silêncio que só arrasta... leva pra longe,enumera teus encantos pra outras,te recria para que eu sonhe outra versão tua e amanhã já te faça viver em mim novamente.
Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica. Ao mesmo tempo,uma impressão,um pouco retilínea e quase nada abstrata,da minha maneira de chorar tua saudade. E eu sentaria em teu colo,brincaria com a tua estatura tão maior que a minha,e choraria pela última vez quando tua voz me banhasse de prazer ao ouvir : "Ah,garota..." .   

domingo, 29 de agosto de 2010

Life is too short

mas na lei natural dos encontros...

só restou eu e você.

http://www.youtube.com/watch?v=If2RX-I7Jnc

terça-feira, 13 de julho de 2010

Se puder,sem medo

Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava
Pra eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo
Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha
Pra que eu fotografe assim meu verdadeiro abrigo
Deixa a luz do quarto acesa,a porta entreaberta
O lençol amarrotado,mesmo que vazio
Deixa a toalha na mesa e a comida pronta
Só na minha voz não mexa,eu mesma silencio
Deixa o coração falar o que eu calei um dia
Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo
Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está e se puder, sem medo
Deixa tudo que lembrar,eu finjo que esqueço
Deixa e quando não voltar,eu finjo que não importa
Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo ir,fechando atrás da porta
Deixa o que não for urgente que eu ainda preciso
Deixa o meu olhar doente pousado na mesa
Deixa ali teu endereço,qualquer coisa aviso
Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa
Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora a dor no coração se expande
Deixa o disco na vitrola pra eu pensar que é festa
Deixa a gaveta trancada pra eu não ver tua ausência
Deixa a minha insanidade,é tudo que me resta
Deixa eu por à prova toda minha resistência
Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila
Deixa pendurada a calça de brim desbotado
Que como esse nosso amor ao menor vento oscila
Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa
Deixa um último recado na casa vizinha
Deixa de sofisma e vamos ao que interessa
Deixa a dor que eu lhe causei,agora é toda minha
Deixa tudo que eu não disse mas você sabia
Deixa o que você calou e eu tanto precisava
Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia
Deixa tudo o que eu pedia,e pensei que dava.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Á nós

Depois que o meu cheiro já tinha se perdido entre as muitas folhas das árvores mais copadas,era então que se recolhia a toalha,antes estendida por cima da relva calma. E eu podia acompanhar,assim recolhida junto a um tronco mais distante,os preparativos da tua entrega para atingir meu corpo. Os movimentos irriquietos do teu movimento masculino para assentir a sedução. Entre á mim . Com meu vestido leve e claro,cheio de promessas de amor,suspensas na pureza de um amor maior.Correndo com graça.Cobrindo o teu semblante com risos.

Na modorra das tardes vazias da fazenda,era num sítio,lá no bosque,que eu escapava aos olhos apreensivos da tua gula. Amainava a febre dos meus pés na terra úmida,cobria meu corpo de folhas e,deitada á sombra eu dormia na postura quieta de uma planta enferma,vergada ao peso de um botão vermelho. Não eram duendes aqueles troncos todos ao meu redor,velando em silêncio e cheios de paciência ao meu sono adulto? Que urnas tão antigas eram essas liberando as vozes protetoras que me chamavam na varanda?
De que adiantavam aqueles gritos,se mensageiros mais velozes,mais ativos,montavam melhor o vento,corrompendo os fios da atmosfera?
Meu sono,já maduro,seria colhido com a volúpia religiosa com que se colhe um pomo. E me lembrei que a gente sempre ouvia nos sermões do pai, que "os olhos são a candeia do corpo". E se eles eram bons,é porque o corpo tinha luz. E se os olhos não eram limpos,é que eles revelavam um corpo tenebroso.

(LA)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sou a audácia que me persegue, cárcere de mim mesmo. A cabeça é uma ilha e coração o porto. Sempre um porto por perto, falou. E anoiteça o que anoitecer: o amor como audácia. Eu estou sempre bem,eu disse enquanto partia com a cabeça austera, rumo ao próximo golpe de ar que nocautearia a razão. Pôs naquele instante a solidão à frente e transbordei a dor, chegou ao chão impecável. Dizem alguns que um dia escreveu no seu próprio corpo: "hey, fique jovem, jovem para sempre e invencível, você sabe quem somos e o do que somos capaz, anoiteça o que anoitecer".


ela deixou tudo pra trás e seus sonhos encheram o céu
tudo vai ficar bem, o amor não é um crime

como um motor remoendo pecados
sempre relembrando o que ele disse
-te alcançar em mim,á mim,entre nós -
como aquela canção que seu pai te cantava
que parece que tu nunca vai esquecer

ela deixou tudo pra trás, e seus sonhos encheram o céu
tudo vai ficar bem, o amor não é um crime

pegue um ônibus, ele está te chamando
tente mudar a cor do teu cabelo
encontre seu caminho na via láctea
você sabe que vai encontrar teu lugar lá fora
-talvez o amor tenha seu próprio tempo-

No final das contas, somos todos sobreviventes de nós mesmos
Lá nas prisões do finito, ousar ser eterno: amor como atalho e labirinto
Mas se você não está morto, sonhará porto por perto
Anoiteça o que anoitecer, coração aberto

ela deixou tudo pra trás, e seus sonhos encheram o céu
tudo vai ficar bem, o amor não é um crime

o amor não é um crime.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

retrocesso ( II )

“Eu nunca te disse, mas agora saiba, nunca acaba, nunca”.

Sei que você emudece rezando para estar surdo, sei que fico me repetindo horas e; é, já sei, tudo volta. Quero tanto poder ainda te fascinar e apesar da gente se gostar, o relacionamento acaba. Não entendo bem de lógica também.

Eu não posso me deixar, não há formula, é só um jeito sem jeito. Amor, não quero me separar.

Não! Estou te falando. Tenho certeza, hedonismo eu já tentei e sei que não dá; na amizade também não dá, dura muito, mas acaba também. Romance você já experimentou e sabe como é, acaba rápido e totalmente sem romantismo. Na boemia não dá, não sabemos falar da verdade e nem enganar direito um ao outro. Acho que não dá. Feliz é mentir, tristeza é tortura, relacionamento aberto é mentira, casamento é moralismo.

Sabe qual é a tragédia da vida? O amor começa num estalo e dura para sempre. Já o relacionamento nasce com o tempo e morre nele mesmo. Nada versa o amor, ele é muito verborrágico. Nada versa, nem o tempo e nem essa pressa, essa velocidade das coisas, nada o afeta. - Sim, amor, a gente vai se separar. – Eu quero a calmaria das coisas, essa velocidade me assusta. Você ainda estará comigo quando a gente não estiver mais junto? Eu sei que é uma pergunta difícil. – Posso passar na sua casa, mesmo depois do fim, para você falar daquelas músicas que gosta? – O amor tem o seu próprio tempo. – Então, antes de ir, grava uns filmes pra mim? E no cinema, poxa, vai comigo? Eu quero a velocidade das coisas, essa calmaria me assusta.

Já separei uns sonetos para ler que falam sobre isso. Por que? Não sei. Nem sei se ajuda. Caetano canta mesmo separando as sílabas, ouviu? "– Você está chorando? Ah! Pensei, desculpa. Tudo bem, desculpa por pedir desculpa." - Quando a gente terminar vou escrever como dói te perder.

Queria correr para dentro de você, mas me sinto numa esteira. – Meio sentimentalista, né? Tentei te guardar, mas nada mais parece caber aqui em casa; sim, eu sei, tenho feito coisas demais, tenho dito coisas demais, tenho negado sorrisos demais, tenho tido calma demais, tenho vivido tempestades demais. Mas não queria nada disso.

"– Cara, vivo numa confusão!"; Nunca me agradou a eternidade disso. Não tem lógica. E estava tão perto,tão perto do caminho de acreditar.Fico me escondendo por trás das coisas que não gosto tentando me convencer que realmente gosto disso. Tá vendo, fazemos a mesma coisa. Você do seu jeito e eu do meu. É, tem razão. Eu deveria mesmo viver umas aventuras. Mas sempre desconfio do interesse que demonstram por mim; lembra? Com você não foi diferente. Enfim, sei que deve ser aquela minha típica mania. Não é ironia, não. Aquela mania de dar muita importância para o que não tem importância nenhuma. Na corda bamba da falsa segurança que eu acredito ter. E naquele antigo costume de fugir; fugir escondido, sem ninguém ver. Ir saindo, esvaindo, esvaindo, esvaindo...

(WR)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

retrocesso

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
vou escrever esta história para provar que sou sublime.


tudo passa
tudo volta
mas já desaprendi
á recuar


tudo é
tudo fica
voltar ao ponto 0
sem querer voltar

-tudo passa-